Especialistas
discordam do texto do
projeto de lei que proíbe a criação de pássaros
Carlos Gomes foi o proponente do encontro |
A
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da
Câmara Federal realizou, nesta terça-feira (21), audiência
pública, proposta pelo deputado Carlos Gomes (PRB/RS), para debater
o Projeto de Lei 3.264/2015, de autoria da deputada Shéridan
Oliveira (PSDB/RR), que proíbe a criação de passeriformes no
Brasil. “Ficou claro que soltar as aves que nasceram e/ou foram
criadas em reclusão na natureza, sem um plano de reintrodução, é
um crime ambiental, já que elas não teriam condições de
adaptação”, destacou Carlos Gomes.
Para
o professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP),
Luís Fábio Silveira, o texto da matéria inviabilizaria também o
desenvolvimento de estudos em vários campos da ciência como
evolução, conservação, zootecnia e neurociência. “A criação
recreativa ou mesmo comercial não é a maior ameaça aos
passeriformes no Brasil, que sofrem muito mais com o avanço da
agropecuária, a expansão da ocupação humana, a caça e as
queimadas”, explicou Silveira, ao frisar que o país tem o maior
número de espécies de aves do mundo, 1.919, sendo 277 endêmicas
(só existem no Brasil), e 234 ameaçadas de extinção.
“Simplesmente proibir não resolve a questão do bem-estar animal.
É preciso estabelecer parâmetros para quem criar os pássaros
dentro da lei”, argumentou.
A
opinião é corroborada pelo professor do Departamento de Zoologia da
Universidade de Brasília (UNB), Ricardo Bomfim Machado, que citou o
exemplo do Bicudo, espécie que, segundo ele, foi salva da extinção
pela criação em cativeiro. “A população neste modo é
importante em casos como o do Bicudo, quando, após a reprodução
assistida, a soltura de apenas 12 casais foi o suficiente para
resolver o problema.
O
diretor da Confederação Brasileira de Pássaros Nativos, Sebastião
Roberto, salientou que existem 39,8 milhões de aves criadas
legalmente no Brasil, que conta com a segunda maior população de
animais de estimação do planeta, em um mercado que movimenta R$
34,4 bilhões por ano e emprega dois milhões de pessoas direta ou
indiretamente. “Somos contra os maus-tratos e temos os traficantes
de animais como inimigos. Além disso, cobramos do Poder Público a
elaboração de projetos de reinserção dos animais em seu habitat.
O que não aceitamos é que os criadores sejam demonizados. Dados
científicos comprovam que a longevidade dos pássaros criados em
cativeiro é maior. Essa prática também é uma estratégia de
conservação das espécies”, sublinhou.
O
PL 3.264/2015, que tramitava até semana passada na CMADS, retornou a
Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e
Serviços, onde deverá ser analisado pelos integrantes do colegiado
nas próximas semanas. Também participaram da reunião, em Brasília,
o perito criminal do Departamento de Polícia Federal, Rodrigo
Mayrink; parlamentares e representantes de associações e federações
de criadores.
Texto e fotos:
Jorn. Jorge Fuentes (MTE 16063)
Câmara Federal
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