Carlos Gomes *
Hoje o Brasil comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. Ao homenagear Zumbi dos Palmares e todos os seus descendentes do nosso Brasil, é necessário reconhecer que vivemos uma realidade ainda marcada por uma herança de preconceitos, que precisamos reverter a qualquer custo.
Cento e vinte anos depois de assinada a Lei Áurea, a situação de boa parte dos 90 milhões de afro-descendentes do País é lamentável, segundo organizações que defendem as políticas afirmativas para os negros. Também celebramos no último dia 15 a proclamação da República. Todavia, a representação efetiva das maiorias sociais, um dos princípios republicanos de nações democráticas, ainda não foi conquistado. A República não estará consolidada enquanto não abolirmos em definitivo a escravidão, representada sob diversas formas.
A tradição de intolerância apresenta-se quase sempre de forma sutil, voltada especialmente contra os afro-brasileiros. Nesse sentido, chamo a atenção para a discriminação dissimulada. Ao mesmo tempo em que vivemos uma democracia incompleta, ainda não traduzida em igualdade de oportunidades, convivemos com um discurso brasileiro de uma eqüidade que não existe, um preconceito maquiado por atenuantes culturais. Um racismo nem tão velado, pois a pobreza atinge os negros no Brasil de uma forma avassaladora.
Sabemos que importantes conquistas foram obtidas desde Zumbi. A escravidão foi abolida por lei e o racismo tornou-se crime inafiançável. Recentemente, o sistema de cotas surgiu como alternativa ao acesso dos negros ao ensino superior, medida estendida a todos os vestibulandos oriundos de escolas públicas.
Entretanto, é também um período em que as máscaras caem. Assisto com perplexidade os embates promovidos pelos que crêem que construir a igualdade é ignorar as diferenças. Lembremos que a necessidade de cotas para que vejamos negros nas universidades, já é um indicativo de que o racismo embutido na herança da escravidão ainda persegue o povo negro e seus descendentes. Tanto o acesso ao mercado de trabalho, quanto à escolarização, revelam-se insuficientes para gerar eqüidade de oportunidade da população negra quando comparada à população branca. As políticas públicas de discriminação positiva, como a definição de cotas nas universidades, mostram-se, hoje, como instrumentos fundamentais para a promoção da igualdade racial.
No dia de hoje, vamos ofertar o melhor presente que a população negra do nosso Brasil poderia receber nesses 120 anos de fim da escravidão: uma sociedade e um Estado brasileiro comprometidos com as políticas voltadas à eqüidade social. É o único caminho para, de fato, construirmos uma nação mais igualitária entre os diferentes segmentos sociais e étnicos de nosso país.
*deputado estadual
Publicado no Jornal Correio do Povo em 20/11/2008 - Editoria Política - Página 4
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