terça-feira, 2 de julho de 2019

Grande Expediente

Carlos Gomes (PRB) discursa sobre o desperdício de alimentos e a segurança
 alimentar no Brasil, em sessão especial na Câmara Federal


Deputado lembrou que 8,7 milhões de toneladas de comida são perdidas no país anualmente
O deputado federal Carlos Gomes (PRB/RS) utilizou o espaço da sessão de Grande Expediente da Câmara Federal, nesta terça-feira (2), para falar sobre o desperdício de alimentos e a segurança alimentar no Brasil. O parlamentar destacou um estudo realizado pela Embrapa, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, no ano passado. O documento diz que cada brasileiro joga 41 quilos de comida no lixo por ano – o equivalente a mais ou menos R$ 323.

Quando falamos em desperdício, lembramos do que nos é mais próximo, do cotidiano comum a nós, que temos o privilégio da comida na mesa. Cada família de três pessoas deixa de consumir, em média, 128 quilos de alimentos anualmente. As maiores perdas, contudo, estão na produção dos alimentos, especialmente na manipulação pós-colheita, na armazenagem e no transporte”, informou.

Para o deputado, trata-se de uma realidade comum em países subdesenvolvidos, que lidam com baixo aporte tecnológico no manejo das lavouras, carência nas condições de estocagem e infraestrutura inadequada para escoamento das safras.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, nos informa que, na colheita, o desperdício é de 10%. Durante o transporte e armazenamento, a cifra vai para 30%. Longas distâncias e precariedade nos locais onde o alimento fica guardado são fatores que impactam na longevidade do produto. O comércio e o varejo deixam escapar 50% enquanto, nos domicílios, 10% dos alimentos vão parar na lixeira”, explica.

Carlos frisa que o total estimado pela FAO é de 8,7 milhões de toneladas de comida perdidas no país todo o ano, o que daria para alimentar 13 milhões de brasileiros, coincidentemente o mesmo número de pessoas passa fome em nosso país. Nesse universo, 5,2 milhões estão hoje em situação de grave insegurança alimentar, sem acesso a pelo menos três refeições por dia. “E o Datasus, banco de dados do Sistema Único de Saúde, recentemente nos alertou para uma silenciosa epidemia que mata de fome quase 5 mil idosos por ano no Brasil. É um doloroso contrassenso para uma nação que ostenta uma das maiores produções agrícolas do planeta”, lamentou.

O deputado apresentou em plenário algumas iniciativas que sugerem caminhos para reverter o quadro de insegurança alimentar no Brasil. “A FAO aponta para a urgência em investir no uso de tecnologias e técnicas adequadas, assim como na infraestrutura de estradas. Compartilhamos com a posição da Embrapa, a qual defende que a produção e o consumo sustentáveis de alimento são áreas que exigem a aplicação do conhecimento científico. E que precisamos de um olhar mais atento às condições das instalações das Centrais de Abastecimento”.

Para Gomes, diminuir os números do desperdício também implica romper com um modelo cultural que enaltece a abundância desmedida e o consumo irracional. “Nossas práticas ainda são regidas pela velha máxima de que é melhor sobrar do que faltar. A preferência por comida fresca à mesa, aliada ao baixo índice de reaproveitamento do excedente de comida”.

Presente no evento, a secretária de Relações Federativas e Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul, Ana Amélia Lemos, defendeu o aperfeiçoamento das ações, leis e políticas de aproveitamento de sobras e disse que não é possível tolerar que bares e restaurantes joguem todos os dias comida fora, quando temos milhões de seres humanos em situação de miséria. “Infelizmente, existe uma legislação que impede as pessoas de doarem esse alimento, pois podem ser responsabilizados, inclusive criminalmente, por qualquer problema que haja com eles”.

Para o parlamentar, esse cenário, mais do que nos escandalizar, deveria nos chamar à luta e nos comprometer com a redução das perdas que, ao lado da fome, produzem uma lógica de desigualdade perversa. “Alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição são condições fundamentais para a erradicação da fome. As medidas a serem adotadas são tão urgentes quanto necessárias”, complementou.


Por: Jorn. Jorge Fuentes (MTE 16063) e Karine Bertani (MTE 9427) - Câmara Federal
Foto: Douglas Gomes

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