segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ARTIGO

A cidadania nas mãos
 
Deputado Carlos Gomes
 
 
O 30 de setembro marca o Dia Mundial do Surdo. Também nessa data, encerramos o Setembro Azul no Brasil, movimento social entendido como o marco no que se refere às ações em defesa das escolas bilíngues para surdos.
 
O Setembro Azul nasceu da crítica à atual política de educação especial que tem priorizado um modelo de pseudoinclusão, resumido em colocar os alunos surdos em escolas regulares e, gradativamente, fechar as escolas especiais. Trata-se de uma política violenta de negação das diferenças, impondo um sistema de representação dominante, que não admite as diversas nuances da população brasileira.
 
Refiro-me a uma pseudoinclusão por acreditar que inclusão não é equivalente a colocar. Considera-se que, para inserir alguém em um ambiente, é preciso adaptar este ambiente para que o indivíduo em questão sinta-se parte de um universo que valorize o aprendizado e reconheça a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como a primeira língua do aluno. Porque inclusão é um processo com dimensões sociais, ideológicas, políticas, culturais e econômicas, que envolve relações interpessoais existentes na escola e fora dela.
 
Não raro, os surdos são vistos pela sociedade e pelos agentes públicos não por suas potencialidades, mas pelas limitações impostas por sua condição, evidenciando uma postura que alimenta o isolamento. Todavia, é preciso lembrar, na contramão das adversidades, as conquistas da comunidade surda ao longo do tempo. O Brasil reconheceu a Libras por meio da Lei 10.436/2002 como a língua das comunidades surdas brasileiras. Mais que um meio de comunicação, sabemos que a língua é fundamental para a construção da identidade e exercício da cidadania.  Em nosso país, o Dia do Surdo é celebrado em 26 de setembro, data da inauguração da primeira escola para a educação de surdos em 1857, com o nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos.
 
No Rio Grande do Sul, é urgente a necessidade de combater o fechamento das unidades de ensino destinadas aos surdos e de lutar pela ampliação da rede de educação bilíngue, com a criação de escolas e cargos de intérprete e tradutor em Libras na rede pública estadual. Promover um Rio Grande igualitário não deve ser uma responsabilidade só da comunidade surda, mas uma missão de toda a sociedade gaúcha.

Artigo publicado na edição de 30/09/2013 do jornal Correio do Povo
Editoria Opinião, página 2

Nenhum comentário:

Postar um comentário