Reciclagem, caminho para o
desenvolvimento
Hoje,
5 de junho, celebramos o Dia Nacional da Reciclagem e o Dia Mundial
do Meio Ambiente. Datas que nos levam a uma reflexão sobre o
panorama atual da atividade no Brasil. Estamos no rumo certo? Que
ações são necessárias para alavancar o setor? Os recicladores
recebem a valorização devida por sua contribuição para a
sociedade? Essas são perguntas cujas respostas são fundamentais
para ressignificar o papel da reciclagem em nossas vidas.
Atualmente,
segundo a Associação das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE), geramos 79,9 milhões toneladas de resíduos
sólidos por ano, mas só 3% disso é reciclado, o que injeta
aproximadamente R$ 12 bilhões na economia brasileira. De acordo com
um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) em 2017, 57,41% do nosso lixo é formado por matéria orgânica
(sobras de alimentos, alimentos deteriorados, lixo de banheiro),
16,49% de plástico, 13,16% de papel e papelão, 2,34% de vidro,
1,56% de material ferroso, 0,51% de alumínio, 0,46% de inertes e
8,1% de outros materiais.
No
Brasil, 1,5 milhão de pessoas vivem da reciclagem, conforme dados do
IBGE. A maior parte encontra-se ainda na informalidade (40,3%),
seguida pela forma de associação (31,3%) e de cooperativa (28,3%).
Existem mais de 3 mil lixões em funcionamento no país e somente 18%
dos 5.570 municípios tem algum programa de coleta seletiva. Toda
essa desorganização contrasta com uma das legislações mais
modernos do mundo sobre o tema, a Lei 12.305, que instituiu a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, que por não ter saído
totalmente do papel, deixa o setor longe de atingir as suas metas
sociais, ambientais e econômicas.
Para
se ter uma ideia, na Alemanha, a reciclagem é a quarta maior
atividade financeira, ao movimentar anualmente 70 bilhões de euros.
Mas isso é possível graças à cultura de reaproveitamento, redução
e reutilização dos resíduos sólidos estabelecida entre Poder
Público, empresariado e a população. Se é possível lá, também
dá pra fazer aqui.
Como
presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cadeia Produtiva
da Reciclagem, colegiado criado em 2015 e reinstalado em 2019 no
Congresso Nacional, promovi audiências públicas para conhecer a
situação das cooperativas, catadores e indústrias da área. O
diálogo com todos os atores do ramo nos permitiu colher as suas
principais demandas, que foram compiladas na Agenda Legislativa do
fórum, apresentada no mês passado em Brasília.
Entre
os itens do documento estão: incentivos fiscais para todo o setor,
com alíquotas especiais para os produtos feitos com material
reciclado; agilidade na tramitação das propostas na Câmara Federal
e no Senado que promovam o desenvolvimento da atividade; campanhas de
conscientização da população sobre a separação e a destinação
dos resíduos sólidos; descentralização das indústrias da
reciclagem para todas as regiões do Brasil, com fomento oriundo da
criação de uma linha de crédito especial para a reciclagem no
BNDES; fiscalização dos acordos setoriais existentes de logística
reversa e mediação entre as cadeias que ainda não aderiram ao
processo e o Poder Público para o estabelecimento do compromisso;
redução das taxas de importação para equipamentos e tecnologias
de modernização da área; fechamento dos lixões, com apoio técnico
e financeiro às prefeituras; instituição da coleta seletiva em
todos os municípios brasileiros e cursos de capacitação de
catadores para que integrem o processo de gestão das cooperativas e
associações de reciclagem.
Na
semana passada também apresentei requerimento de inclusão na ordem
do dia de votação do plenário da Câmara dos Deputados da PEC
309/2013, que trata da aposentadoria especial para os catadores de
materiais recicláveis. A matéria, de autoria do deputado Padre João
(PT/MG), quer estender à categoria o regime que é aplicado,
atualmente, aos produtores rurais e pescadores artesanais.
A
mesma regra pode ser destinada aos catadores porque, assim como as
outras duas classes de trabalhadores, a sua atividade é braçal e
exercida sob condições climáticas adversas. E, como diz o texto da
proposição, da mesma forma que os agricultores são fundamentais
para a produção dos alimentos que consumimos todos os dias, os
recicladores são imprescindíveis na preservação do meio ambiente.
A PEC 309 determina que os catadores contribuirão para a seguridade
social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei. A medida também estabelece como idade mínima para
acessar a aposentadoria, 60 anos para homens e 55 anos para as
mulheres.
Todas
essas ações têm por objetivo tornar a reciclagem parte do nosso
cotidiano, valorizar o trabalho de quem tira o seu sustento da
atividade e legar às próximas gerações um planeta melhor, onde a
exploração dos recursos naturais seja cada vez menor. Muito já foi
feito, mas é preciso avançar. Vamos em frente!
Carlos
Gomes
Deputado
Federal e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cadeia
Produtiva da Reciclagem no Congresso Nacional
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