Carlos Gomes*
Alimentar-se de maneira adequada é um direito fundamental do ser humano que diz respeito não somente à sobrevivência física e intelectual. A alimentação está diretamente ligada à dignidade da pessoa humana, fator indispensável à realização de direitos já consagrados pela nossa Constituição Federal.
Hoje, dia em que celebramos o Dia Mundial da Alimentação, verificamos, com pesar, que estamos aquém das metas de redução da fome. O planeta atravessa um momento de graves dificuldades na realização do direito à alimentação para parcelas consideráveis da população. Não só o Brasil, como também outros países, desembolsam cem vezes mais para salvar o sistema financeiro do que para alimentar sua gente.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o número de pessoas desnutridas no mundo já supera os 923 milhões, uma situação agravada pelo desperdício. No Brasil, dados do IBGE confirmam que mais de 14 milhões de pessoas são atingidas pela fome. A cada dia, 25 mil pessoas morrem no mundo em conseqüência da falta de comida. Entre as vítimas, 11 mil são crianças. Vale lembrar, também, que um terço das crianças dos países em ascensão apresentam atraso no desenvolvimento físico e intelectual. O Jornal Correio do Povo de hoje nos chama a atenção para as 87 mil famílias da região metropolitana que não se alimentam adequadamente. No Rio Grande do Sul, esse número ultrapassa 1 milhão de habitantes.
Sabemos que colocar comida na mesa é condição necessária no combate à desnutrição, mas ainda não é o suficiente. A segurança alimentar, em sua concepção mais pura, se dá a partir da realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem, no entanto, comprometer o acesso a outras necessidades. São instrumentos para chegar a essa meta práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem as especificidades culturais e que consigam, ao mesmo tempo, ser ambiental, econômica, cultural e socialmente sustentáveis. É preciso, também, conhecer os recursos existentes em cada setor para implementar, de modo mais eficiente, as ações inclusivas com atenção a uma escala de prioridades estabelecida conjuntamente.
Para refletir sobre o tema, além de estimular o debate e as ações de combate à fome e ao desperdício, meu gabinete parlamentar, juntamente com o gabinete do deputado federal Paulo Roberto, elegemos a Vila Bom Jesus, na capital gaúcha, como o cenário adequado para essa comunhão e reflexão. O evento, que deverá servir um arroz carreteiro para duas mil pessoas no próximo sábado, conta com o apoio do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), da Companhia Riograndense de Mineração, Sindicato de Fiscais de Tributos do Rio Grande do Sul (SINTAF), veículos de comunicação, além de associações comunitárias da Vila Bom Jesus. O almoço que será servido na Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima com certeza não é uma ação definitiva no contexto dessa luta que assumimos, mas é uma iniciativa que carrega consigo o compromisso com os esquecidos e a esperança de dias melhores.
* deputado estadual
Artigo publicado no jornal Correio do Povo em 16/10/2008 - Editoria Opinião - Página 4
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