Audiência
pública discute prejuízos à
sociedade causados pelo álcool
Participantes
falaram sobre impacto social do consumo da bebida
Sérgio de Paula Ramos, Carlos Gomes e José Francisco Mallmann |
Os danos
causados pelo consumo do álcool foram tema de audiência pública na
Comissão de Saúde e Meio Ambiente na manhã desta segunda-feira
(16). O encontro foi proposto pelo deputado Carlos Gomes (PRB), que
coordenou os trabalhos. “A indústria fica com o lucro advindo do
consumo do álcool e a sociedade arca com o prejuízo dos danos à
saúde, além do impacto social e econômico”, lamentou o
parlamentar.
Ingestão
de álcool está diretamente relacionada com a criminalidade
O
primeiro palestrante foi o delegado de Polícia Federal José
Francisco Mallmann, ex-superintendente da PF e ex-secretário de
Segurança Pública do Rio Grande do Sul. O delegado é autor da
Operação Lei Seca, criada em 2007 no Estado e disseminada
posteriormente em todo o País. Mallman apontou a relação entre a
ingestão de bebidas alcoólicas e a incidência de homicídios,
acidentes de trânsito e violência doméstica, em especial contra as
mulheres.
Números
revelam que cerca de 40% dos inquéritos policiais são consequência
da ingestão de bebida. “No Rio Grande do Sul, 32% dos assassinos
estavam alcoolizados no momento dos crimes, e 80% dos agressores nos
casos de violência contra a mulher”. Ele também chama a atenção
para o fato de que quem mata não é o trânsito, mas o álcool.
O desafio
maior, de acordo com o delegado, é disciplinar legalmente o comércio
e consumo de álcool, proibindo a venda após a meia-noite. Também
chamou a atenção para a necessidade de permitir a propaganda no
rádio e televisão somente após às 22 horas. "Uma das maiores
dificuldades em alterar a legislação reside no comprometimento de
agentes públicos com a indústria do álcool, pois já foi noticiado
que cerca de 70% dos congressistas brasileiros receberam ajuda desse
segmento para suas campanhas", observa.
Mallmann
defende a criação de um fundo especial para a recuperação das
vítimas do álcool, a ser mantido pela indústria de bebidas
alcoólicas. "Observamos a obtenção de lucro das empresas com
o consumo de álcool, enquanto o Estado e a sociedade ficam com o
ônus do alcoolismo. É o contribuinte quem paga pelos danos advindos
do vício", alertou.
Hipocrisia
da sociedade
O álcool
é a quarta droga mais nociva, perdendo apenas para a heroína,
cocaína e barbitúricos. A nicotina aparece em 7º e a maconha em
8º. “O álcool é a porta de entrada para outras as drogas e não
a maconha. Essa é a hipocrisia da nossa sociedade”, observa
Mallman. O delegado acredita que muitas mortes ocorridas na tragédia
da boate Kiss em Santa Maria poderiam ter sido evitadas. “A maioria
dos jovens estava sob efeito de álcool e perdeu sua capacidade de
reação frente àquela situação”.
Mallmann
criticou a postura dos deputados da Assembleia Legislativa que
aprovaram a suspensão da proibição da ingestão de bebidas
alcoólicas durante a Copa do Mundo de 2014 e cobrou a fiscalização
na saída dos jogos.
O
deputado Jurandir Maciel (PTB) esclareceu que votou contra a
suspensão da lei que proibiu a venda de bebidas nos estádios
durante a Copa do Mundo de 2014. “Nossa missão aqui é promover a
vida”, reiterou.
Foco
nos jovens
Os jovens
estão no foco da indústria do álcool segundo o psiquiatra e
psicanalista Sergio de Paula Ramos, membro do Conselho Consultivo da
Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas
(Abead). “Temos uma nova geração que acredita que não é
possível se divertir sem álcool.” De acordo com ele, como a
indústria não estaria conseguindo aumentar o consumo entre homens
adultos, ela estaria investindo em propaganda para mulheres, idosos e
em especial para os jovens.
Se uma
pessoa ingerir bebida apenas aos 21 anos, como prevê a legislação
americana, a chance de ela tornar-se dependente é de 9%. “No
Brasil, onde o consumo inicia aos 13 anos, esse percentual vai para
47%.” Ramos afirmou que, em sua experiência de 40 anos no
tratamento da dependência, verificou que predominantemente o álcool
representa o primeiro contato dos dependentes com o universo das
drogas.
O
psiquiatra acredita que as campanhas contra o crack tiraram o foco do
álcool, que é o principal problema por ser uma droga lícita e mais
generalizada. “Apenas 0,7% das pessoas tem problemas com crack. Já
a bebida atinge 12,5% da população. Em termos de saúde pública
não tem comparação.”
Encaminhamentos
Entre as
propostas apresentadas no final da audiência, os participantes
destacaram a restrição de horário para o comércio e propaganda de
bebida alcoólica e a abordagem adequada do tema no anteprojeto de
alteração do Código Penal brasileiro, além de elaboração de
campanhas pelas redes sociais e publicação de cartilhas impressas.
A
procuradora de Justiça Noara Lisboa manifestou a necessidade de
urgência para a apreciação, pela Câmara dos Deputados, do projeto
de autoria do senador Humberto Costa (PLS 508/2011) que criminaliza a
venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. A proposta já
foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Noara
lembrou que atualmente o Estatuto da Criança e do Adolescente
criminaliza a venda, o fornecimento e a entrega de produtos cujos
componentes podem causar dependência física ou psíquica, mas não
deixa explícito que o álcool faz parte dessa lista de produtos.
Segundo informou, o objetivo da proposta é evitar contestações
judiciais ou dúvidas. A moção de apoio à proposição, além das
demais conclusões do encontro, devem ser encaminhadas ao Governo do
Estado, ao Congresso Nacional e demais entes envolvidos. O deputado
também comprometeu-se em apresentar propostas legislativas acerca do
tema.
Também
participaram do debate a diretora institucional da Fundação Thiago
Gonzaga, Ana Maria Dall Agnese; o presidente Estadual do Tribunal de
Mediação, Roque Bakof, além do representante da Famurs Paulo
Airton Nunes da Silva.
Cristiane
Vianna Amaral - MTE 8685 | Agência de Notícias -ALRS
Com alterações da assessoria do gabinete do deputado Carlos Gomes
Fotos: Adriana Pereira e Gabriele Didone
Com alterações da assessoria do gabinete do deputado Carlos Gomes
Fotos: Adriana Pereira e Gabriele Didone
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