quarta-feira, 23 de março de 2011

INDÚSTRIA COUREIRA

Assembleia discute limites e possibilidades
do rebaixamento ecológico


Audiência pública foi proposta por Carlos Gomes junto à Comissão de Saúde e Meio Ambiente

Uma técnica alternativa de rebaixamento de couro foi apresentada nesta quarta-feira (23) em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa, por solicitação do deputado estadual Carlos Gomes (PRB). O encontro promovido pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente reuniu parlamentares, representantes do Poder Executivo estadual, instituições de pesquisa e de proteção ambiental, além de empresas e entidades ligadas à indústria de artefatos e processamento de couro.
Durante a audiência presidida pelo deputado Jurandir Maciel (PTB), o técnico em curtimento de couro Eloí Nórdio, de Estância Velha, apresentou o chamado ecorrebaixe. O método pretende diminuir a quantidade de resíduos sólidos gerados pelos curtumes, que atualmente utilizam o cromo como principal componente no processamento do couro. Contaminados pelo elemento químico, as aparas e o farelo do couro são classificados como resíduos classe I, considerados perigosos pela norma brasileira (NBR 10004/2004) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

O que é rebaixamento ecológico
A mudança apontada por Nórdio, que estuda o rebaixamento ecológico há 20 anos, consiste na separação do farelo da rebaixadeira (máquina utilizada no processamento do couro) e das aparas em etapa anterior à aplicação do cromo. “Esse procedimento diminui a demanda do elemento químico a ser utilizada, garantindo a mesma qualidade no produto final. Também tem a vantagem de gerar matéria-prima para as indústrias de alimentação humana e animal, além de beneficiar o empresário, que hoje precisa descartar o resíduo sólido a um custo elevado”, explica.
Debate

Durante a audiência, foi revelado que o tempo necessário para a adequação dos curtumes à nova técnica é de no máximo 2 meses, mas o objetivo de Carlos Gomes é implementar gradativamente o processo. “Não queremos demonizar o cromo; o objetivo é fazer o uso racional de um elemento fundamental na garantia da conservação do couro. Todas as mudanças propostas serão colocadas em prática a partir de um estudo de viabilidade e do debate com os setores envolvidos”, esclareceu.
O presidente da Câmara Municipal de Canoas, vereador César Augusto (PRB) demonstrou preocupação com as recentes mortandades de peixes ocorridas no Rio dos Sinos, que banha o município, as quais podem ter sido causadas pelo descarte irresponsável de resíduo cromado. “Exames da água já revelaram a presença de resíduos de cromo, sinal de que o debate precisa avançar para ações que interrompam esse processo nocivo para o meio ambiente”, alertou.
De acordo com o diretor de meio ambiente da Associação das Indústrias de Curtume do RS (AICSUL), Hugo Springer, aproximadamente 90% do couro utilizado na produção de artefatos é importado de outros estados e países. Como a matéria-prima já vem cromada, o que impossibilita a reciclagem das aparas, restaria apenas 10% do couro para ser utilizado no novo processo. A esse respeito, o deputado Jurandir Maciel afirmou que é preciso ir adiante com a iniciativa no estado, a fim de promover a mudança também no restante do pais e no mundo. Maciel lembrou o exemplo do ambientalista José Lutzenberger que, segundo ele, estudava soluções simples para preservar o meio ambiente e reiterou a disposição da Comissão de Saúde e Meio Ambiente em levar adiante a discussão. “Trata-se de uma luta que não é só do meio ambiente, mas também dos empresários, porque o método diminui despesas originadas do uso do cromo. Está aí a oportunidade de competir com mercados como o chinês, que tem destruído nossa indústria calçadista”.
O presidente do Tribunal de Mediação e Arbitragem do Rio Grande do Sul, Roque Noli Bakof, destacou a necessidade da discussão chegar à população. “Há duas décadas o método foi descoberto e, desde então, temos assistido ao lançamento de poluentes no meio ambiente, porque nós não assumimos a responsabilidade sobre essa questão. O protagonismo da Assembleia em trazer o debate à tona mostra que não se trata de um problema só da indústria, mas de toda a sociedade”, defendeu.
Resultados da audiência

Ao final do debate, Carlos Gomes propôs a formação de um grupo de trabalho composto por deputados, ambientalistas, além de representantes de instituições e empresas para buscar possibilidades técnicas e econômicas de implementação do rebaixe ecológico junto aos curtumes do Rio Grande do Sul.

O deputado também deverá solicitar junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) um estudo sobre o impacto do lançamento de resíduos cromados ao meio ambiente. Após essa etapa, será elaborado projeto de lei instituindo o rebaixe ecológico nos curtumes do Rio Grande do Sul, a ser protocolado na Assembleia Legislativa.

Também participaram da audiência pública o diretor da Divisão de Controle da Poluição Industrial da Fepam, Renato das Chagas e Silva; o prefeito de Estância Velha, Waldir Dilkin; o integrante do Conselho Regional de Química do RS, Ricardo Noll; o presidente do Sindicato das Indústrias de Artefatos e de Curtimento de Couro e de Peles de Estância Velha, Jorge Steiner; os vereadores do município de Frederico Westphalen, Lauro Luiz Chielle e Vianei Lapazin; a presidente do PRB Verde, Gabriela Ottmann; os representantes do Centro Tecnológico do Couro do Senai, José Everton Braun e Antônio Pederzolli, além de ambientalistas e representantes de empresas ligadas à indústria de artefatos e processamento do couro.

Por: Jorn. Karine Bertani / Assembleia Legislativa – MTB 9427
Foto: Adriana Pereira / Assembleia Legislativa

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