Evangélicos e a política no RS
Durante as eleições 2010, menos de 10% dos evangélicos votaram em candidatos que professam a mesma fé
Período de eleição é sempre igual. Surgem, aos montes, candidatos que declaram serem evangélicos. Alguns deles, realmente, são comprometidos com a causa. Outros apenas aproveitam o espaço dado nos cultos para angariar alguns votos, muitas vezes em troca de “patrocínios” para congressos ou evangelismos. Sem um foco definido, os evangélicos não elegem seus candidatos. Fica então a pergunta: Com apenas dois representantes, é possível defender a causa evangélica?
De acordo com o último senso, realizado pelo IBGE, em 2010, o Rio Grande do Sul possui exatos 10.576.758 milhões de habitantes. Destes, aproximadamente 16% são evangélicos, o que equivale a mais de 2,5 milhões de pessoas. Se excluirmos desse total o número de pessoas evangélicas dispensadas das obrigações eleitorais (em geral, 20% da população bruta), chegamos ao número de 2 milhões de evangélicos aptos a votar, número este, suficiente para eleger uma dezena de deputados estaduais.
A situação, no entanto, caminha em direção totalmente oposta. Apenas dois evangélicos chegaram à Assembleia Legislativa: Carlos Gomes (PRB) e Jurandir Maciel (PTB). Este último, aliás, só obteve sua cadeira da Assembleia, graças a uma combinação de fatores. Com apenas 29.564 votos, Maciel terminou como primeiro suplente de seu partido, sendo nomeado deputado estadual em substituição a Luis Augusto Lara (57.936) que foi convidado pelo governador Tarso Genro para o cargo de secretário estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social.
Já a eleição do deputado Carlos Gomes é um capítulo à parte. Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, contou com apoio maciço – e já sabido – que a denominação presta a seus candidatos. Assim, atingiu expressivos 59.144 votos, sendo o 15º deputado mais votado no estado, de um total de cinquenta e cinco. Atualmente, em seu segundo mandato, Gomes lembrou que durante a Legislatura de 2006-2010 era o único evangélico na Assembleia Legislativa. Na opinião do deputado, esse quadro escasso é consequência do pouco interesse que o evangélico tem com política. “Poderíamos ter muito mais evangélicos na política. Mas, infelizmente, ainda há uma resistência muito forte. Muita gente atribui esse envolvimento com questões espirituais. Mas, se fomos ver, a política sempre esteve presente na Bíblia”, pondera.
Atualmente, Carlos Gomes trabalha em uma importante questão para as igrejas: o pagamento de ICMS. “É uma cobrança indevida. Já temos um projeto. Estamos encontrando meios de manter assegurado aquilo que já é constitucional”, afirma, fazendo referência ao artigo 150 da Constituição Federal, que proíbe a cobrança de ICMS para os templos religiosos. Entretanto, as igrejas continuavam sendo taxadas normalmente por absoluta falta de fiscalização. E o Projeto de Lei 45/2011 vem para que a lei seja cumprida. E, caso o deputado seja bem-sucedido em sua luta, as instituições religiosas devem comemorar. A alíquota cobrada em contas de luz e telefone é de 25%. Ou seja, um quarto do valor da eletricidade que a igreja paga vai para um imposto que é cobrado, indevidamente. Supondo que uma igreja, no decorrer de um ano pague, aproximadamente, 10 mil reais de eletricidade, caso a lei já estivesse em vigor, cerca de R$ 2,5 mil seriam economizados. A expectativa é de que, até meados de maio o projeto já esteja em votação.
Nos municípios da região Metropolitana
Nas câmaras municipais, a inserção de evangélicos na política ganha em números e, principalmente, em porcentagem. Se, na Assembleia Legislativa são dois evangélicos de um total de 55, em Porto Alegre mantém-se os dois evangélicos, porém, dentro de um universo de 34 cadeiras. Em Novo Hamburgo, Ito Luciano, do PMDB é voz solitária na Câmara dos Vereadores. Com o quarto maior distrito eleitoral do estado, Canoas surpreende. Ao todo, são treze vereadores. Destes, cinco frequentam igrejas evangélicas. Mas esse alto número de evangélicos, não significa, necessariamente, melhorias para os seus colegas de fé. Pelo menos é o que afirma vereador canoense Carlos Eri Lima, do PSDB que é enfático: “Se o povo cristão se unisse, seríamos muito mais fortes”, alerta.
Fazendo coro a declaração do vereador Eri está Carlinhos Fleck (PT), eleito por São Leopoldo, que conta com três evangélicos na Câmara Municipal. Membro da Igreja Nova Aliança, o vereador acredita que a fé deveria ser mais preocupada com justiça social. “Os evangélicos se preocupam muito com as questões de dentro da igreja. Então é preciso gerar essa transformação. Perceber que a consciência social também é muito importante e fundamental para a vida cristã” avalia.
Reportagem publicada no jornal Povo Cristão – Ano II – nº 12 – abril de 2011
Editoria: Política – páginas 4 e 5
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